terça-feira, 26 de abril de 2011

A VALSA DOS ADEUSES - MILAN KUNDERA


O livro se passa em uma estação de águas na qual o principal objetivo é o tratamento de mulheres que buscam livrar-se da infertilidade.

A história, tirante o que diz respeito à fertilidade e ao desejo do médico que realiza a fertilização nas mulheres de implementar a eugenia no seu pequeno mundinho, parece uma paródia do poema Quadrilha, de Drummond:

"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história."

Esse, por si, seria um bom resumo da história, que conta com uma esposa cujo único vínculo com o marido é o ciúme, um marido que trai a esposa por amá-la demais, uma mulher que tem um namorado, mas acredita estar grávida de outro e tudo o mais que é fantasioso e/ou real na vida amorosa ocidental.

A lírica de Kundera é maravilhosa e existem frases e sacadas sensacionais a respeito da fidelidade, do ciúme, do desespero e até da idiotice humana sem fim. Fora isso, nada me  tocou de forma profunda.
Seja como for, a leitura é válida e eu recomendo.

P.S.: Perdões pela falta de atualização, mas, GRAÇAS A DEUS, eu não tenho tido muito tempo para me dedicar a esse espaço. Prometo atualizar sempre que der/ que eu quiser.

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Estrangeiro – Albert Camus


No jogo do I CHING, o estrangeiro é aquele que está distante de seu lugar. Tal lugar pode ser sua casa propriamente dita ou, em um sentido mais metafórico, o sujeito é estranho ao mundo, às convenções.

Essa definição, sem dúvida, ajuda a entender o livro do qual estamos tratando hoje. O personagem de Camus é aquele que não se emociona de forma grandiosa com a notícia da morte de sua mãe e parece sempre agir de forma mecânica, instintiva.

Alinha-se às convenções sem convicção nelas, como um estrangeiro, sendo, portanto, incapaz de chorar a morte da mãe. Ser diferente, no entanto, lhe custa caro.

Em uma confusão, mais uma vez causada pela sua inércia diante da vida, o personagem se envolve em um assassinato e o seu julgamento oficial, pelo juiz, é carregado de pré julgamentos sociais. A análise deixa de ter relação com o assassinato propriamente e começa a ser levantado juízo de valor a respeito do caráter do sujeito, incapaz de chorar a morte da própria mãe.

O sujeito é condenado não por seu crime, mas por sua forma de lidar (ou de não saber lidar) com os fatos cotidianos.
Livro recomendadíssimo. Clássico, aliás.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A arte de produzir efeito sem causa – Lourenço Mutarelli



O livro começa a envolver pela gráfica. A textura do papel é peculiar e as ilustrações são do próprio autor, o que não costuma ser comum.

A história trata de um sujeito que, sem emprego e separado da esposa, volta para a casa do pai. O personagem principal cria um labirinto de tramas na própria cabeça e se envolve em uma síndrome persecutória, tornando a vida um espaço sem saída, onde somente a loucura acha espaço em razão dos seguidos fracassos.

A trama é feita de tal forma que, por algum tempo, o leitor fica sem saber o que é real ou não, de forma envolvente e nervosa, levando a loucura para perto do terror. Recomendadíssimo.

sábado, 19 de março de 2011

O Filho Eterno - Cristóvão Tezza


Cristóvão Tezza conta a história de uma relação pai e filho que poderia ser ordinária, como a vida do protagonista, mas não é. A criança, esperada como um grande passo da vida de um homem fracassado na vida profissional, surpreende os pais em seu nascimento e chega na família com síndrome de Down. Imediatamente, o pai cria repulsa, pensa que “crianças com esse defeito” não duram muito, conjectura a morte morte de seu filho e até sua reação conformada (e aliviada) no dia do enterro do primogênito.
Tal pai, um sujeito com problemas com o trato social e com uma visão peculiar e pragmática do mundo, rejeita  naturalmente o filho, o inevitável filho, reagindo catastroficamente aos acontecimentos. Chega a ser dolorida a sensação experimentada durante a leitura dos primeiros capítulos.
No decorrer dos anos, no entanto, ele vai se adaptando ao filho, como faz com tudo em sua vida conformista, até que, em um dado momento, percebe que não consegue viver mais sem aquela criança e descobre, finalmente, seu amor por aquele filho eterno, definitivo, irrenunciável, experimentando, assim, o sabor de apaixonar-se.  

sexta-feira, 18 de março de 2011

O Deus das Pequenas Coisas - Arundhati Roy


Transgressão.
Se eu tivesse que definir “O Deus das Pequenas Coisas” em uma palavra, seria esta.
A autora começa a transgredir na linearidade da narrativa. Algumas vezes funde passado até com o futuro do que está sendo contada. Tudo é desenhado assim: pelas mãos poéticas de uma criança que começa do meio, às vezes dá dica do caminho para o final e termina sem começar.
A transgressão vem ainda do amor proibido. O livro se passa na Índia e os protagonistas da história ousam se apaixonar, casar por amor, o que é uma tolice para os demais membros da família. Isso, segundo eles, não pode acabar bem. Há também o amor inter-castas, além de um pária que ousa crescer e se reconhecer como humano.
Transgride a autora também nas lendas: diz-se que os irmãos univitelinos sentem um pelo outro. No livro o casal de gêmeos é bi vitelinos e parece ter uma só alma dividida em dois corpos, em dois destinos forçados.
A prosa é poética, adjetiva e cheia de sinestesias. Foi recomendação da Renata e ela é autoridade, por isso, vale a pena se deixar fluir pela teratologia sem começo ou fim.

Capitu


Tudo começou com Capitu.
É antiga a pergunta: Capitu traiu ou não Bentinho? Machado de Assis talvez tenha a resposta. Todas as outras possíveis são mera especulação.
Junto com o sabor da poesia emprestada à uma história simples, cotidiana, Machado imprime diversos ângulos a seu conto, de modo que os indícios são muitos. Até para uma advogada como eu, fica difícil saber o que prevalece: o ciúme e a insegurança de Bentinho ou a capacidade de dissimulação de Capitu.
Foi vendo o seriado “Capitu”, transmitido pela Rede Globo de Televisão, que eu percebi um olhar diferente do meu sobre aquela história. O ângulo ressaltado na minissérie foi diferente daquele que eu percebi na minha leitura e aí que surgiu a idéia: Ter um lugar para dividir as MINHAS impressões sobre uma determinada leitura.
Ler é uma prazer solitário, e o livro é lido junto com a história de vida do leitor, em conjunto com o momento presente, sobre a ótica da atual perspectiva mundial, de modo que um livro é diferente para cada pessoa que o lê. Por isso, se vocês e minha madrinha e antecessora Renata me dão licença, começo aqui o meu cantinho de percepções sobre leituras, que vou alimentando sem compromisso, só pelo prazer.