segunda-feira, 28 de março de 2011

A arte de produzir efeito sem causa – Lourenço Mutarelli



O livro começa a envolver pela gráfica. A textura do papel é peculiar e as ilustrações são do próprio autor, o que não costuma ser comum.

A história trata de um sujeito que, sem emprego e separado da esposa, volta para a casa do pai. O personagem principal cria um labirinto de tramas na própria cabeça e se envolve em uma síndrome persecutória, tornando a vida um espaço sem saída, onde somente a loucura acha espaço em razão dos seguidos fracassos.

A trama é feita de tal forma que, por algum tempo, o leitor fica sem saber o que é real ou não, de forma envolvente e nervosa, levando a loucura para perto do terror. Recomendadíssimo.

sábado, 19 de março de 2011

O Filho Eterno - Cristóvão Tezza


Cristóvão Tezza conta a história de uma relação pai e filho que poderia ser ordinária, como a vida do protagonista, mas não é. A criança, esperada como um grande passo da vida de um homem fracassado na vida profissional, surpreende os pais em seu nascimento e chega na família com síndrome de Down. Imediatamente, o pai cria repulsa, pensa que “crianças com esse defeito” não duram muito, conjectura a morte morte de seu filho e até sua reação conformada (e aliviada) no dia do enterro do primogênito.
Tal pai, um sujeito com problemas com o trato social e com uma visão peculiar e pragmática do mundo, rejeita  naturalmente o filho, o inevitável filho, reagindo catastroficamente aos acontecimentos. Chega a ser dolorida a sensação experimentada durante a leitura dos primeiros capítulos.
No decorrer dos anos, no entanto, ele vai se adaptando ao filho, como faz com tudo em sua vida conformista, até que, em um dado momento, percebe que não consegue viver mais sem aquela criança e descobre, finalmente, seu amor por aquele filho eterno, definitivo, irrenunciável, experimentando, assim, o sabor de apaixonar-se.  

sexta-feira, 18 de março de 2011

O Deus das Pequenas Coisas - Arundhati Roy


Transgressão.
Se eu tivesse que definir “O Deus das Pequenas Coisas” em uma palavra, seria esta.
A autora começa a transgredir na linearidade da narrativa. Algumas vezes funde passado até com o futuro do que está sendo contada. Tudo é desenhado assim: pelas mãos poéticas de uma criança que começa do meio, às vezes dá dica do caminho para o final e termina sem começar.
A transgressão vem ainda do amor proibido. O livro se passa na Índia e os protagonistas da história ousam se apaixonar, casar por amor, o que é uma tolice para os demais membros da família. Isso, segundo eles, não pode acabar bem. Há também o amor inter-castas, além de um pária que ousa crescer e se reconhecer como humano.
Transgride a autora também nas lendas: diz-se que os irmãos univitelinos sentem um pelo outro. No livro o casal de gêmeos é bi vitelinos e parece ter uma só alma dividida em dois corpos, em dois destinos forçados.
A prosa é poética, adjetiva e cheia de sinestesias. Foi recomendação da Renata e ela é autoridade, por isso, vale a pena se deixar fluir pela teratologia sem começo ou fim.

Capitu


Tudo começou com Capitu.
É antiga a pergunta: Capitu traiu ou não Bentinho? Machado de Assis talvez tenha a resposta. Todas as outras possíveis são mera especulação.
Junto com o sabor da poesia emprestada à uma história simples, cotidiana, Machado imprime diversos ângulos a seu conto, de modo que os indícios são muitos. Até para uma advogada como eu, fica difícil saber o que prevalece: o ciúme e a insegurança de Bentinho ou a capacidade de dissimulação de Capitu.
Foi vendo o seriado “Capitu”, transmitido pela Rede Globo de Televisão, que eu percebi um olhar diferente do meu sobre aquela história. O ângulo ressaltado na minissérie foi diferente daquele que eu percebi na minha leitura e aí que surgiu a idéia: Ter um lugar para dividir as MINHAS impressões sobre uma determinada leitura.
Ler é uma prazer solitário, e o livro é lido junto com a história de vida do leitor, em conjunto com o momento presente, sobre a ótica da atual perspectiva mundial, de modo que um livro é diferente para cada pessoa que o lê. Por isso, se vocês e minha madrinha e antecessora Renata me dão licença, começo aqui o meu cantinho de percepções sobre leituras, que vou alimentando sem compromisso, só pelo prazer.